18.ª edição do Festival Terras sem Sombra – É tempo de passear no fim de semana
Este fim de semana volte a sair de casa! E eu tenho uma
sugestão de qualidade, daquelas que já tínhamos tantas saudades.
A minha proposta é que vá até ao Alentejo, mas não vai à toa,
seguir este programa não se vai arrepender. O Festival Terras sem Sombra tem
uma vasta tradição de ligar música, a cultura do Alentejo ao mundo e o trabalho
desenvolvido em prol da divulgação do que temos de melhor e dos intercâmbios culturais
é de se tirar o chapeu.
Vamos lá? Façam as malas e num instante estão em Ferreira do
Alentejo:
PATRIMÓNIO CULTURAL
Peroguarda, 2 de Abril, 15h00
Ponto de encontro: Casa do Povo
Actividade orientada por: Maria João Pina (museóloga),
Virgínia Dias (escritora), José António Falcão (historiador de arte), Luís
Ferreira Alves (fotógrafo) e Alexandre Alves Costa (arquitecto) Uma Aldeia no
Coração do Alentejo: Peroguarda
Segundo a tradição, esta localidade conserva o nome do seu
antigo terratenente e donatário, Pêro da Guarda, que viveu nos finais da Idade
Média. O povo afirma ter sido morto e devorado por um javali, debaixo de uma
oliveira ou de um sobreiro. A história do território em que está implantada, porém,
é muito anterior, como o atestam abundantes vestígios arqueológicos identificados
em diversos pontos da freguesia, na sua maioria datados do período romano,
entre eles uma escultura da deusa egípcia Ísis, enfaixada dos pés ao pescoço, à
semelhança das múmias. Mais tarde pertenceu à Casa do Infantado.
Visitando a aldeia de Peroguarda em 1916, o Visconde de Vila
Moura considerou-a “das mais lindas e característica da região”. Algumas
décadas depois, em 1938, nos tempos áureos do folclorismo do Estado Novo, foi
classificada como a “aldeia mais típica do Baixo Alentejo”. Mas as gentes da freguesia
superaram este e outros clichés, despertando a atenção, pela genuína e profunda
riqueza da sua cultura tradicional, desvendada por um notável etnógrafo local,
Joaquim Roque.
Em 1958-59, o fotógrafo Luís Ferreira Alves sucumbiu ao
encanto da terra e da sua comunidade, retratando-as num conjunto notável de
imagens que são agora objecto de uma exposição no Museu Municipal de Ferreira
do Alentejo e oferecem um políptico ao mesmo tempo duro e terno da vida, na
região, nesses tempos. Pouco depois chegaria o etnomusicólogo Michel
Giacometti, no encalço do Cante e de outras manifestações artísticas com grande
expressão. Tão firme foi a sua paixão por Peroguarda que, embora tendo falecido
em Faro, em 1990, quis ser sepultado no pequeno cemitério da aldeia.
A freguesia sofreu grandes transformações desde que o
regadio permitiu um intenso aproveitamento agro-industrial dos seus excelentes
solos, mas a paisagem retém muito da beleza original e a aldeia não perdeu o
genius loci, o espírito do lugar. Pelo contrário, guarda bem presente a feição
tradicional, assim como o apego aos usos e costumes, motivo de grande orgulho
local.
BIODIVERSIDADE
Cerro da Águia (Ferreira do Alentejo), 3 de Abril, 9h30
Ponto de encontro: Museu Municipal
Actividade orientada por: José João Cavaco (funcionário
público aposentado) e José Luís Margarido (engenheiro técnico agrário)
Quando a Botânica é também Gastronomia: Carrasquinhas,
Catacuzes, Funchos & Cia. A padronização dos hábitos alimentares que
caracteriza a sociedade de consumo dos nossos dias, levou ao esquecimento de um
vasto manancial de recursos naturais, em que se destacam as ervas aromáticas e
medicinais, além de muitas outras plantas que fazem parte da gastronomia
tradicional.
Graças ao esforço conjunto de investigadores, de peritos em
conservação da natureza e de mestres da culinária, assiste-se hoje, em terras
de Ferreira do Alentejo, a um renascer do interesse por algumas plantas que
fizeram parte do cardápio regional, nomeadamente em tempos de carência, e que
apresentam um significativo potencial não só nutritivo, mas também do ponto de
vista do enriquecimento dos paladares.
Fazem parte do património português e merecem ser mais bem
conhecidas e, até, protegidas, já que, com a expansão das modernas culturas
permanentes, tendem a perder o seu habitat.
Entre as ervas com largos pergaminhos na gastronomia de
Ferreira do Alentejo, cabe destacar as carrasquinhas, os catacuzes e o funcho.
Se todos eles tiveram ampla utilização na alimentação das classes mais
humildes, tornaram-se verdadeiros “clássicos”, perdendo essa conotação
original.
Hoje, por exemplo, pouca gente sabe que o funcho era
bastante apreciado e largamente consumido, devido à sua abundância e às suas
propriedades terapêuticas, tanto reais como místicas, pelas comunidades
ciganas.
Nesta acção vemos percorrer velhos caminhos em torno de
Ferreira do Alentejo e dirigir-nos ao Cabeço da Águia, de onde se avistam
largos panoramas, hoje marcados pela preponderância do olival e do amendoal,
mas onde persistem oásis da vida selvagem e autênticos redutos daquelas espécies.
Vamos aprender a identificá-las, a preservá-las e a consumi-las sem colocar em
risco o seu futuro. Vamos aprender igualmente a colhê-las e usá-las.
MÚSICA
Figueira dos Cavaleiros (Ferreira do Alentejo), 2 de Abril,
21h30
Local: Lagar da Herdade do Marmelo
TRIO KLAVIS
Violino JENNY LIPPL
Saxofone MIHA FERK
Piano SABINA HASANOVA
Programa - “Teatro de Sombras: Música para Violino, Saxofone
e Piano”
Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]
Kegelstatt Trio, K. 498, para clarinete, viola de arco e
piano*
I. Andante
II. Menuetto
III. Rondo. Allegretto
Marc
Eychenne [1933-]
Cantilène
et danse pour violon, saxophone et piano
Dmitri Shostakovich [1906-1975]
Trio n.o 1, op. 8, para violino, violoncelo e piano*
RYUICHI SAKAMOTO [1952-]
Forbidden Colors*
*Adaptações/arranjos de Miha Ferk
BIOGRAFIA
Trio Klavis
Fundado em 2013, em Viena, este agrupamento de música de
câmara tem vindo a destacar-se, no plano internacional, pela impressionante diversidade
do seu repertório sonoro. O rigor interpretativo e a qualidade tonal
permitem-lhe imprimir um carácter e um timbre distintos a obras-primas que vão
dos períodos clássico e romântico, com Mozart e Brahms, até à Segunda Escola de
Viena e à era moderna, com Schoenberg e Krenek. Dimensões não menos
significativas, a excelência do labor artístico e as actuações “de cor” – algo
pouco comum na música de câmara clássica – levam-no a tocar com uma liberdade
digna de nota.
Sempre fiel ao objectivo de expandir o repertório para trio
de piano, violino e saxofone, o Trio Klavis estreia regularmente peças
originais suas, amiúde inspiradas em melodias tradicionais, ou encomendas
dirigidas a compositores de referência, entre eles Richard Dubugnon e Aleksey Igudesman,
que lhe tem feito várias dedicatórias. Fruto da sua residência no Prémio
Internacional de Composição Gustav Mahler 2020, o repertório para essa
instrumentação aumentou significativamente.
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