Olhó Frango no Mercado

 



Já escrevi sobre o Mercado de Santana, que se realiza todos os domingos, numa pequena aldeia, quase perdida no tempo, próximo das Caldas da Rainha, e que todos os domingos de manhã, seja Verão ou Inverno ganha uma nova vida, devido às gentes, que vêm de todo o lado para se comprar tudo aquilo que possam imaginar.

Para mim é sem dúvida a última das grandes feiras que se realizavam quando eu era miúda, e que movimentavam centenas de pessoas, que, não tendo outras opções, iam às feiras para vender e comprar tudo o que precisavam.

Nessa altura, quando eu era miúda, era usual comer na feira ou num restaurante muito próximo, onde se respirava exatamente a mesma balburdia cá de fora, num misto de gritos e cheiros, uma excitação que aumentava as vendas, cimentadas pela confiança e pelo dinheiro que circulava alegremente de mão em mão.

No final, no regresso a casa, levavam-se os bens, essenciais que nesse tempo não havia luxos. Já outros levavam dinheiro que era depois trocado por nova mercadoria, novamente essencial, que era de novo levada para a feira e que alimentava um circuito informal de negócios, numa época em que a vida era sem dúvida mais simples.

 Não sei bem porque gosto de ir ao Mercado de Santana, se é por me fazer lembrar as minha origens, se é pela azafama, se é pela oferta variada de produtos, de é pela expetativa da pechincha que de vez em quando consigo encontrar, ou ainda porque no mercado também se encontram produtos que não se vêm à venda noutros lados e alguns deles vindos diretamente da fábrica ou do produtor, sendo por isso de grande qualidade. Na feira encontramos de tudo, para todos os bolsos e todos os gostos e é por isto que me divirto tanto no Mercado de Santana.

A lembrar a minha infância, depois das compras, todas em sacos plásticos muito simples e de cores variadas, acabamos o passeio a almoçar no Olhó o Frango – um fenómeno de vendas que vale a pena apreciar.

Aqui podíamos estar nos anos 80 do seculo passado que não haveria grande diferença. A sala, sempre completamente cheia de gente, o barulho das pessoas misturado com os gritos dos empregados que clamam pela atenção de quem lhes passa a comida, a correria constante em direção à cozinha e depois de volta à sala, a simpatia de sermos recebidos como amigos, mais sorrisos e risos, a confiança de quem confia em nós quando dizemos o que comemos, a mãe, que gere o restaurante e os filhos que trabalham todos juntos, o ambiente familiar, a certeza de sabermos bem o que vamos comer e de nunca falhar, o vinho branco a pressão, fresquinho e saboroso todo o ano, as batatinhas fritas que se comem por vicio, o pão, a salada, claro o frango que assa à nossa vista e que salta direto para a travessa e depois para o nosso prato e antes disto tudo, enquanto esperamos por mesa, o copinho de vinho para embalar o belo do rissol de leitão que não desilude.

O café vem com a conta e com o “xiripiti”. A garrafa fica em cima da mesa para nos servirmos à vontade, e até a garrafa me recorda os velhos tempos porque aquela rolha de plástico já não encontro em lado nenhum e aguardente como aquela também não.

Aqui não se espera muito tempo por nada, o segredo para além de ser um negócio familiar é não haver qualquer luxo e todos receberem exatamente o que espera. Mesmo assim, entre uma dentada no frango ligeiramente picante e nada seco, e uma garfada nas batatas fritas estaladiças e bem quentes, dou por mim a tentar perceber quantas refeições são servidas numa manhã de feira e a pensar que aquele negócio, tão simples e assente em princípios tão antigos e muitas vezes esquecidos, continua a ser uma formula de sucesso mostrando que por muito que se desenvolvam técnicas e estratégias de vendas, no final da linha, o que muita gente quer que seja entregue é confiança, simpatia, simplicidade, qualidade, alegria e amizade.

Olhó o Frango, bem assado, temperado e de pelo crocante. Sugestão fora da caixa, sem luxos e sem extras mas que recomendo vivamente.                        


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