Teresa Vai com as Outras - As Linguagens do Amor

 


“Se o seu (sua) filho (a) pegar algum objeto, embrulhá-lo e der a você com um brilho todo especial nos olhos, a primeira linguagem do amor dele, provavelmente, é “Receber Presentes”. Ele (ela) os concede, porque gostaria de receber algo em troca. Se você observar seu filho, ou filha, sempre desejoso (a) de ajudar os irmãozinhos, isso provavelmente significa que a linguagem dele (dela) é “Formas de Servir”. Se ele ou ela tiver o hábito de elogiá-lo (a) constantemente, ao afirmar que você está muito elegante, é um bom pai ou uma boa mãe e que bom trabalho você fez, são fortes indicadores de que a primeira linguagem do amor dele (dela) é “Palavras de Afirmação”. Tudo isso se passa a nível do inconsciente da criança, ou seja, ela propositadamente não pensa: “Se eu der um presente a meus pais, eles também me darão outro; se eu os tocar, também serei acariciado”; mas o comportamento dela é motivado por seus desejos emocionais. Talvez tenha aprendido, por experiência própria, que ao falar ou dizer determinadas coisas, recebe um padrão de reação dos pais. Portanto, o que ela faz ou diz tem o objetivo de suprir suas necessidades emocionais. Se tudo prosseguir normalmente e suas necessidades emocionais forem supridas, tudo se encaminhará para que se tornem adultos responsáveis. Porém, se a carência emocional não for suprida, podem chegar a violar determinados padrões, ou expressar a ira contra seus pais, por eles não terem suprido suas necessidades. Isto também os levará a procurar amor em lugares inadequados. Dr. Ross Campbell, o psiquiatra que me falou pela primeira vez do “tanque do amor” emocional, diz que durante os muitos anos em que tratou de adolescentes envolvidos em comportamentos sexuais irregulares, havia entre eles algo cuja carência afetiva que deveria ter sido suprida pelos pais. Sua opinião era que praticamente toda conduta sexual irregular em adolescentes tinha sua raiz em um “tanque” do amor emocional vazio.

Por que, quando os filhos ficam mais velhos, nossas “Palavras de Afirmação” tornam-se palavras de condenação?”

Gary Chapman, As Cinco Linguagens do Amor

 

Introdução

Este livro, Linguagem de Amor, foi escrito a pensar nos casais, mas tem um capítulo dedicado aos filhos, voltarei com certeza a ele, mas hoje, como é Dia da Mãe, fica o convite a que se pense nas relações entre pais e filhos, em como isso afeta a vida dos mais jovens, acabando muitas vezes também por ter um impacto brutal na vida dos pais.

 

A Pulseira

A minha mãe morreu no início do ano.

O meu pai morreu há 7 anos.

Lembro-me deles com regularidade, mas lembro-me especialmente no Dia da Mãe e no Dia do Pai e muito especialmente no dia nos meus anos, que é agora em maio.

Comecei a viver sozinha em Lisboa com 20 anos, eles não tinham o hábito de me ligar com regularidade, mas nunca falharam o dia do meu aniversário. Tenho saudades dessa chamada telefónica em que a minha mãe falava sempre primeiro e com o sorriso na voz me dava os parabéns, depois passava sempre o telefone ao meu pai. O meu pai nunca falava ao comigo ao telefone, mandava sempre recados pela minha mãe, pelo que aquela chamada tinha um grande peso, e a voz dele também. No início ligavam logo de manhã, muitas vezes eu ainda a dormir, lembro-me de uma vez que estava em viagem, no Brasil, e de que com a diferença horaria eles ligaram de madrugada. Apanhei um susto porque achei que tinha acontecido alguma coisa, mas não, eles ligavam cedo porque se levantavam cedo e levantavam-se cedo comigo no seu pensamento e apesar da minha relação com os meus pais não ser uma relação de afeto aquela era a forma de eles expressarem o amor que tinham por mim. Com o passar dos anos a minha mãe foi ligando cada vez mais tarde, sempre a passar o telefone ao meu pai, sempre a transformar aquele momento num momento formal e por isso importante, de carinho. Mesmo quando o meu pai morreu a minha mãe nunca deixou de ligar, embora já não fosse a mesma coisa porque faltava o meu pai, formal, com a voz grave, a fazer daquele momento um momento solene. Lembro-me que no primeiro ano em que isto aconteceu, quando desliguei as lágrimas corriam-me pela face, no segundo ano fiquei triste, no terceiro conformada e nos seguintes só encolhia os ombros no final da chamada, mas nestes anos todos nunca falhou a chamada telefónica.

Havia um ritual, desse ritual fazia também parte a prenda. Durante muitos anos ganhei sempre uma prenda, eu dizia o que gostava e eles compravam, esta era a sua linguagem de amor para comigo. Depois os anos passaram, a minha mãe que era quem tratava da prenda deixou de ter a mesma energia e passou a dar-me uma nota, sempre formal, dentro de um envelope branco com o meu nome por fora, como se fazia antigamente nos casamentos, e dizia sempre – compra uma coisa para ti, é só uma lembrança do teu aniversário.

Durante anos a preocupação da minha mãe era que eu tivesse comprado a minha prenda antes do dia dos meus anos, para a poder estrear no dia e eu durante anos comprava alguma coisa para mim e estreava como ela tanto gostava.

Depois do meu pai morrer, quando a minha mãe me deu a nota dentro do envelope, eu fui à ourivesaria e comprei um fio de prata com um anjinho pendurado, desta vez queria uma prenda que ficasse comigo para sempre e me lembrasse deles. Embora a minha linguagem de amor não seja receber presentes senti necessidade de guardar algo que os fizesse viver mesmo já não estando cá, por isso, o fio de prata com o anjinho pendurado é das “joias” que mais uso no dia a dia, entretanto a argola do fio já se estragou mas consegui encontrar forma de continuar a usar o meu amuleto que representa um escudo de proteção contra as dificuldades da vida, aquilo que os pais devem ser e aquilo que sentimos mais falta quando eles se vão.

Já estamos em maio, este ano vai ser o primeiro ano que não vou receber a chamada de nenhum deles nem vou ter a nota para comprar um presente para estrear no dia do meu aniversário.

Este ano, em fevereiro, tinha a minha mãe falecido há pouco tempo, comprei uma prenda por impulso, uma pulseira de prata, com banho de ouro, para dar a uma amiga. Foi uma compra de impulso confesso, depois pensei melhor e achei que era muito mau dar uma pulseira de prata com banho de ouro a alguém e a caixinha da ourivesaria, com um belo laço de cetim de cor bege, dentro do saco plástico, ficou esquecido no porta-bagagens do meu Honda, dentro do saco de roupa para ir para a modista.

Aquele saco vivia dentro do porta-bagagens, estava lá há tanto tempo que já tinha o seu espaço reservado, mas esta semana precisei de umas roupas que estavam lá dentro e tomei a decisão de ir à modista. Na sexta-feira abri o porta-bagagens, abri o saco para rever tudo o que tinha lá dentro e eis que encontro o saco da ourivesaria, com a caixinha da ourivesaria, com um belo laço de cetim de cor bege. Já não me lembrava sequer da pulseira, acabei por comprar outra prenda e esqueci-me desta compra. Retirei o saco, guardei-o dentro da minha mala sem saber o que fazer com a pulseira, que não ia dar a ninguém porque era mau dar uma pulseira de prata com banho de ouro, fui à modista e fui trabalhar.

Ontem fiz a minha mala de fim de semana e como estava com a cabeça noutros assuntos não me lembrei mais do saco, da caixinha, do laço de cetim bege, da pulseira. Ainda fui ao centro comercial para ir buscar uma pulseirinha de ouro que estava a arranjar, mas estava tanta gente na ourivesaria que, sem paciência para o consumismo deste dia, sai sem esperar mais tempo.

Hoje, Dia da Mãe, abri a mala, vi o saco e finalmente prestei atenção, pensei uns segundos e devagar retirei o saco, abri-o e ainda mais devagar retirei a caixa, abri e lá dentro estava uma pulseira de prata, com banho de ouro, fininha como eu gosto, e com o símbolo do infinito. Seja qual for a linguagem de amor, espera-se sempre que o amor seja infinito e ser infinito significa que vive para além de tudo logo vive para além da morte.

Depois, devagar coloquei a pulseira no meu pulso e fiquei a olhar para o símbolo do infinito que representa o amor, aquele que é mesmo amor porque vive para além de tudo. Pensem o que quiserem, mas esta foi a última prenda que os meus pais me deram no meu aniversário, antes da data como sempre o fizeram, mas sempre no mês de maio, o meu mês, o mês de todas as mães, o mês do amor.             

 

 


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