Óbidos, Um Lugar Encantado
Óbidos é um local onde ao passear pelas suas ruas,
facilmente imaginamos um senhor de idade, sentado num banco de madeira tão
gasto que já se perdeu o ano em que foi comprado na feira, encostado a uma
parede branca, na soleira da porta da sua modesta casa, emoldurada por uma
vibrante buganvília cor-de-rosa, num dia soalheiro, a contar-nos histórias do
seu passado, retratando a vida difícil de quando era jovem. Se nos sentarmos à
sua beira para o escutar, é provável que as histórias vão recuando cada vez
mais no tempo até uma altura quase esquecida por todos.
Óbidos nem sempre se chamou assim. Será difícil precisar
quando se fixaram as primeiras populações na região, mas não é difícil perceber
a importância que Eburobrittium teve para os romanos. Nessa altura, Óbidos
tinha outro nome, o centro estaria localizado na zona que hoje conhecemos como freguesia
das Gaeiras e a vida era muito diferente. Mais tarde, possivelmente por estar
demasiado exposta às invasões e também devido ao recuo das águas da lagoa, a
vila instalou-se onde a conhecemos até aos dias de hoje.
De I a. C. até à segunda metade do V d., Eburobrittium foi
muito importante para os romanos. A navegabilidade da lagoa permitia chegar
facilmente por barco, as águas termais existentes na região, semelhantes às das
Caldas da Rainha, permitia o acesso a tratamentos e bem-estar que tanto
prezavam, e a posição geoestratégica, localizada no centro, próximo da Serra de
Montejunto e do mar era bastante valorizada. No centro da construção estará o
fórum e a basílica, havendo ainda vestígios de armazéns, outros edifícios
públicos e das termas, um elemento fundamental para os romanos pois era o local
onde muitas decisões eram tomadas.
Descoberta em 1994, durante a construção da A8, Eburobrittium
não está aberta a visitas do publico, mas faz parte do património histórico e
cultural de Óbidos e ajuda a entender o valor que este local teve desde tempos
ido, para Portugal e para o mundo.
Com a queda do Império Romano, devido à sua localização
estratégica, vários povos se fixaram na região. Conquistada aos mouros por D.
Afonso Henriques, durante o Sec. XIV é propriedade das Senhoras Rainhas. Na
altura do matrimónio com o rei a noiva recebia uma parte do património do rei,
o que lhes garantia, durante toda a sua vida, uma fonte de rendimento. Estes bens, onde Óbidos estava incluída, eram
geridos de forma autónoma o que permitiu criar também uma identidade própria
que perdura até aos nossos dias e é assim que esta vila, foi primeiro dote de
casamento de D. Dinis para a Rainha Santa Isabel, figurando posteriormente
também do dote de D. Leonor e de D. Filipa de Lencastre.
Desses tempos, para além do castelo e das ruas pitorescas e
bem conservadas, chegam-nos ainda rumores de histórias e lendas, contadas pelos
mais antigos, de princesas encantadas, de amor, de traição e até de animais malditos,
mas também um vasto património religioso e cultural, possivelmente por ter sido
local de preferência de reis e rainhas, deixando marcas da sua presença que se
mantém até aos nossos dias.
Por momento voltamos ao local onde nos sentamos para ouvir
histórias sobre Óbidos. Olhamos à volta e vimos que o sol agora abraça a vila
dando-lhe um tom dourado, que combina na perfeição com os tons brancos,
debruados a azul ou amarelo do casario medieval, cuidadosamente cuidado. A
calçada, branca, reflete o brilho e uma réstia de calor parece emanar das
pessoas que se movimentam pela rua principal, repleta de lojas, com artigos
regionais.
O nosso contador de histórias leva-nos agora até às invasões
francesas. É também em Óbidos que encontramos a razão para o reforço da nossa
aliança Luso-britânica, a aliança diplomática mais antiga do mundo. O primeiro
embate entre as tropas britânicas e francesas ocorre nos arredores da Vila e
mais uma vez o sangue se espelha pelas terras. Os combates em torno de Óbidos e
a Batalha da Roliça, marcam o início da Guerra Peninsular que levaria à derrota
de Napoleão e à afirmação e Inglaterra como grande potencia mundial.
Para que a história existe o núcleo da coleção da Guerra
Peninsular, um espaço museológico localizado no edifício do espaço Ó, nas
Gaeiras e que reúne o acervo de Frederico Pinto Basto, dedicado ao período das
invasões francesas com especial foco no conflito que ocorreu na península
Ibérica.
Das Gaeiras, voltamos a Óbidos para descobrir a pé a Igreja
de Santa Maria, a Igreja da Misericórdia, a Igreja de São Pedro, o Pelourinho e
a Livraria do Mercado Biológico, e o Museu Municipal de Óbidos onde se
encontram obras de Josefa de Óbidos, uma pintora de referência do sec. XVII e
ainda o Museu Paroquial de Óbidos, o Museu Abílio de Mattos e Silva, a Galeria
novaOgiva, o Centro de Design de Interiores e Casa do Arco da Cadeia onde
paramos para apreciar uma ginjinha, depois é seguir para a parte exterior das muralhas,
parando para apreciar a Porta da Vila e seguir caminho para descobrir o
Aqueduto, o Santuário do Senhor Jesus da Pedra e o Santuário do Senhor Jesus da
Pedra.
Designada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO, Óbidos
é agradável em qualquer altura do ano, e há sempre com muito para fazer. Durante
todo o ano um conjunto de eventos, dedicados a vários públicos, trazem à vila
gente de todo o lado para participar no Óbidos Vila Natal, no Festival
Internacional do Chocolate, no Mercado Medieval, na Semana Internacional de
Piano, na Semana Santa, Fólio – Festival Literário Internacional ou no
Latitudes – Literatura e Viajantes.
Tours, passeios e workshops ajudam a completar a oferta para
conhecer a região. A gastronomia inspira-se na Lagoa para enriquecer a sua
oferta e os vinhos da região inspiram-nos a querer conhecer mais sobre uma
região tão rica e vasta.
A oferta de campos de golfe merece destaque com alguns
campos considerados entre os melhores da Europa. Para quem gosta de praticar
este desporto, recomenda-se os campos de golfe da Praia D’El Rey, Royal Óbidos,
Guardian Bom Sucesso Golf e West Cliffs e claro não podia faltar a praia, os
extensos areais da Lagoa de Óbidos, onde se encontra a paz e a tranquilidade e
se pode apreciar a fauna local e praticar atividades como a pesca e observação
de passáros.
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