A Beleza Surpreendente do Teatro Eduardo Brazão no Bombarral
Bombarral é uma vila pacata localizada no Oeste de Portugal.
Um lugar tão pacato e sossegado pelo que a última coisa que esperava encontrar,
confesso, era um magnifico teatro, que respira ainda o glamour de quando foi
inaugurado, em 1921.
Quando entrei fiquei surpreendida pela sua beleza e pelo
cuidado com que está conservado. Por instantes lembrei-me do Teatro Amazonas em
Manaus. No Bombarral não encontramos a imponência que encontramos em Manaus,
mas em comum existe a surpresa de encontrar monumentos que representam a importância
e o valor que a cultura já teve e que se vai perdendo, tristemente.
Suavemente, numa tendência que se replica dos dois lados do
mundo, vão morrendo pilares da nossa sociedade. Enquanto fingimos não perceber
o quanto estamos a perder, até chegar ao ponto em que nos surpreendemos por
encontrar estes magníficos monumentos, daí até à indiferença é um passinho mínimo
e dos dois lados do oceano senti exatamente o mesmo, teatros grandiosos, cuidados,
mas adormecidos à sombra do seu passado, enquanto aguardam pacientemente que o
futuro lhes dê a vida que merecem ter.
Conseguem imaginar como era a vida no Bombarral em 1918,
altura em que começou a construção do teatro no Bombarral? O edifício destaca-se
pelos elementos de arte nova, apresentando a fachada principal três planos com
o central mais alto e ligeiramente saliente. No interior, a sala dispunha de 458
lugares distribuídos pela plateia, frisa, balcão e camarotes. Destaque especial
para o amplo foyer e para o salão nobre, excelente para a realização de eventos.
Classificado atualmente como Imóvel de Interesse Publico,
foi inaugurado com a comédia “Dom César de Bazan”, na década de 30, o teatro
passou a funcionar como cinema. Ao longo dos tempos passaram por este teatro
vários nomes bem conhecidos dos portugueses como Vasco Santana, António Silva,
Laura Alves, Ivone Silva, Maria do Céu Guerra, Camilo de Oliveira, Tozé
Martinho, António Calvário, Marina Mota, Carlos Cunha, Luís Zagallo, Sofia Alves,
o maestro Victorino de Almeida, entre tantos outros.
Ao longo dos anos o edifício tem vindo a ser restaurado, com
destaque para a intervenção em 1941 e posteriormente em 2004, altura a partir
da qual passou a integrar a rede nacional de teatros do Ministério da Cultura.
O seu interior em madeira cria um ambiente intimista que nos
leva a fazer viagens imaginárias no tempo. O meu olhar demorou-se a olhar à
volta, cuidadosamente fui observando todos os detalhes, e enquanto falávamos
percebi a importância da acústica da sala. Depois, por momentos abstrai-me das
conversas, o meu olhar perdeu-se novamente a olhar à volta da sala, semicerrei
os olhos e saltei para os anos 20 e 30 do seculo passado, consegui imaginar os
espetadores a entrar na sala, o burburinho, a emoção de uma ida ao teatro, que
não era sempre um momento especial. Na sala, embora esteja agora silenciosa, vagueiam
ainda as emoções, que ficaram para sempre presas às paredes e a todo o espaço.
Silencio por momentos e depois, ao fundo, as palmas e os sorrisos. Os atores saem
de cena, aos poucos todos abandonam o teatro, fecham-se as luzes e depois a
porta, e o teatro adormece, esperemos que acorde em breve para nos voltar a
fazer sonhar e sorrir.
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