Fotografia Analógica – A Arte de Saber Esperar

 


Corre, corre, corre, corre… Corremos para todo o lado e de tanto correr, por vezes, esquecemos o que íamos fazer. Paramos, atrapalhados, a pensar que só pode ser o primeiro sinal de velhice, depois falamos com os amigos e respiramos fundo porque não estamos sozinhos, e nem percebemos que estamos errados e que de tanto correr nos estamos a esquecer de viver.

Longe vão os tempos em que tudo era feito com calma, as fotografias por exemplo. Lembram-se da emoção de ter de esperar por acabar um rolo para ver o resultado? De ter de conseguir dinheiro para pagar a revelação que não era assim tão barata? Da frustração quando o rolo ficava mal posto e tínhamos perdido todas as fotografias? De que não era possível repetir as poses porque primeiro nem sabíamos se o resultado tinha sido bom e depois cada fotografia custava dinheiro. Nessa altura as máquinas não funcionavam sozinhas e havia poucos truques para conseguir boas fotos, era a visão do fotografo que imperava e quando olhávamos para uma fotografia estávamos a ver o mundo exatamente pela visão do seu autor.

Nem toda a gente tinha máquinas fotográficas, eram um pequeno luxo e representavam um nível de vida mais confortável ou uma paixão e para alguns, um trabalho.

A primeira máquina fotográfica que vi era de um dos meus irmãos, protegida numa grossa capa de couro, a mim, à miúda, só me deixavam espreitar pelo óculo e era em dias de festa. Nas fotos desse tempo, de tons quentes, descobrem-se festas de família, especialmente de Verão, uma ou outra ida à praia, ferias e passeios. Eu, em algumas delas, quase sempre de mini saia, com uma pose estudada, a imitar as que tínhamos de fazer quando íamos ao fotografo do bairro.

Depois, com o passar do tempo começamos a correr, deixamos de ter tempo para esperar, perdemos a calma e a paciência e fomos perdendo o interesse na fotografia analógica. Queríamos ver logo, partilhar logo, mostrar logo, viver logo. As máquinas esquecidas foram colocadas no fundo das gavetas e mais tarde dadas e com sorte vendidas.

Quando todos pensávamos que era o fim, que não fazia sentido guardar maquinas, rolos e químicos de revelação, eis que sem esperarmos, alguns dos mais jovens, cativados pela magia das cores únicas e de um tempo em que dávamos valor a saber saborear,  redescobrem as máquinas, reinventam emoções, encontram rolos fora de validade, fazem experiencias e constroem novos produtos, novas formas de arte.





O projecto anELogico representa tudo isso. Da vontade de mostrar Portugal ao mundo nasce a parceria entre a Teresa Vai de Férias e anELogico! No site https://www.teresavaideferias.com/tvdfxanelogicopt.html#/ encontramos impressas imagens capturadas por anELogico do Norte ao Sul de Portugal de 2018 a 2020, em localizações tão emblemáticas como o Alentejo, a Mouraria e a Foz do Arelho, local de fundação e atividade de Teresa Vai de Férias, uma oferta composta por cinco postais, cinco prints em tamanho A5 e um print em tamanho A3, que podem ser adquiridos em conjunto ou individualmente. Por detrás da lente está um jovem de 21 anos, que estuda imagem e que se preocupa em ir para o terreno, recriando ambientes rurais e urbanos, dando ao mundo a sua visão de Portugal.  

Agora, que nos obrigaram a parar, é tempo de reaprendermos a olhar para as paisagens, de redescobrir os detalhes. Agora que nos obrigaram a parar, vamos aproveitar para reaprender a viver.

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