Um Pouco de Ginja Para Aquecer a Alma
Diz a lenda que a origem da ginjinha remonta ao Séc. XVII,
altura em que um frade, com um espírito mais criativo, usou a ginga, produzida
em grande quantidade e de excelente qualidade na região do Oeste, juntou-lhe açúcar
e aguardente e produziu o famoso licor, de cor densa e escura e sabor intenso e
doce, que carateriza tão bem a região do Oeste.
Parece que a receita, pela sua simplicidade, rapidamente
ficou conhecida e que as pessoas começaram a produzi-lo em casa, oferecendo
sempre que tinham visitas. O licor era bebido ao serão, ajudando a aquecer as
longas conversas das noites de inverno, misturadas com os cheiros quentes da
madeira a crepitar dos troncos na lareira.
Foi essa tradição que chegou até aos nossos tempos e de que
me recordo da minha infância. Com os sem lareira, os serões com amigos ou família
tinham sempre um licor e bolos e doces caseiros.
Entretanto o forte crescimento turístico de Óbidos, ou a
procura de algo novo, juntou à tradição o copinho de chocolate, que tempera
o licor e nos deixa na boca o sabor doce
e aumenta a vontade para um passeio pelas ruas centenárias, cuidadosamente
conservadas, que emolduram o castelo, de origem anterior ao próprio licor, guardando
histórias e segredos de tempos muito antigos, que se perdem no próprio tempo.
Óbidos carrega história e naquele solo, em camadas, estão
depositadas marcas deixadas pelos nossos reis, recuando até primeiro, Afonso
Henrique, que terá assentado as suas tropas na entrada da vila, junto à pequena
capela, conquistando o que estava ocupado pelos mouros, e que antes tinha sido
dos Visigodos e antes disso dos Romanos. Existem ainda vestígios desses tempos,
nesta vila tão antiga onde existe tanto para conhecer.
Mais ou menos doce, mais ou menos forte, a ginja de Óbidos
ganhou fama e a produção aumentou dando origem a algumas fábricas, como a
Mariquinhas.
Visitar a fábrica é uma descoberta que recomendo. O espaço,
moderno, conserva na sua essência o que deu origem ao licor. Tudo começou nos
anos 40 do século passado, quando Abílio Ferreira de Carvalho começou a
experimentar artesanalmente, na sua taberna e mercearia, a criação de licores
sendo que os primeiros rótulos datam de 1949.
Este pequeno comercio com o passar do tempo deu origem a uma
empresa familiar, que se mantem até aos nossos dias, e onde continuam a ser
valorizados os métodos antigos e manuais de produção do licor, um trabalho minucioso,
que leva consigo a nostalgia dos velhos tempos em que tudo era feito à mão.
Para além do carinho pela preservação da tradição familiar, existe
outro segredo que determina o sucesso da Ginjinha Mariquinhas, a empresa possui
mais de 25 mil pés de ginjeiras na região, entre o Bombarral e o Cadaval, sendo
por isso autossuficientes em termos de produção do fruto e assegurando assim o
controle da qualidade da produção da matéria prima. O produto final obtido é um
licor que provem da maceração da fruta, ao qual se adiciona álcool não vínico, açúcar
e água.
No Teresa Vai de Férias, em parceria com a Ginjinha Mariquinhas,
desenvolvemos visitas e workshops feitos à medida.
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