As Mil Formas no Atelier
Chegamos ao Nadadouro e a casa, igual a todas as outras, não
mostra à primeira vista que esconde lá dentro pequenos tesouros sob a forma de
arte, de cerâmica.
Os vidros gigantes, no andar de baixo, dão amplitude para o
espaço cá fora onde dois cães brincam animadamente enquanto nas traseiras, um
pequeno coelho se entretêm a comer pedacinhos de relva, correndo quando se
assusta, para se esconder entre moldes e peças que esperam a sua vez para
ganhar vida.
O espaço, cuidadosamente cuidado, guarda num canto, ao ar
livre, os fornos de onde saem as peças quase finalizadas. Recomendo,
especialmente num final de tarde de primavera ou de verão, assistir à criação das
peças com a técnica Raku, pela beleza das mesmas, trabalhadas nos fornos e
arrefecidas depois, rapidamente. Ninguém fica indiferente à arte que nasce
perante os nossos olhos, embalada pelo fogo vivo, ao ar livre, enquanto o sol
termina o seu dia, mas ainda abraça suavemente a nossa pele.
Lá dentro, no atelier, a azafama é grande e o cuidado é
imenso. Num canto mais escuro, as prateleiras, carregadas alinham-se talvez mil
gatos de linhas contemporâneas, num único tom, quase etéreo, aguardando calmamente
a sua vez de seguir viagem.
Do outro lado, em mesas gigantes, a Rute e a Patrícia
trabalham, cada uma dando vida à sua forma de ver o mundo (é com elas que decorrem
os workshops que organizamos de iniciação à olaria, de pintura de azulejo, de cerâmica
e de iniciação ao Raku). Diferentes na sua forma de o ver e de expor a sua visão,
têm em comum a mesma vontade que lhes corre nas veias de criar, expondo-se
através da sua arte.
A cor, sempre a cor, e aqui também o movimento que se sente
do que vemos a ser criado mesmo à nossa frente. E não é porque estamos que o
ritmo abranda, o trabalho continua e sentimo-nos integrados, não estamos só a
aprender um pouco desta arte centenária, estamos num lugar onde tudo acontece e
sentimo-nos integrados neste mundo quase à parte.
A fluidez natural das mil formas que se vive no atelier leva-nos
a olhar para os pilares onde os formatos e cores das peças brincam com a nossa
mente, enquanto ao lado, nas prateleiras, moldes adormecidos, estão em
silencio, sabendo que nunca estão esquecidos.
Mas é nas mesas que realmente tudo acontece. Pontes cheios
de pinceis e outros artefactos, moldes que tiveram de acordar, rolos de massa
gigantes, pedaços de argila, pequenos pedacinhos de madeira, tudo acontece em
redor da mesa, e nas prateleiras, mil produtos observam cuidadosamente e
esperam ansiosos, pela sua vez se sair do anonimato e de integrar peças que se
vão espalhar pelo mundo fora.
No Nadadouro, numa casa igual a tantas casas, a arte, as
pessoas, a cerâmica, combinam-se, partilhando vivencias. É neste ambiente que
decorrem os nossos workshops, um lugar onde não há só criação, mas inspiração
para quem quer descobrir o artista que existe dentro de si.
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