À descoberta da Cafetaria do Cinema S. Jorge










Por estes dias Lisboa está quase deserta, as ondas de turistas aguardam que o mundo se regenere e enquanto isso, lugares que nos habituamos a ver carregados de gente, estão agora tranquilamente a aguardar que o tempo resolva e que a normalidade regresse às nossas vidas.

A Av. Da Liberdade em Lisboa é um lugar a (re)descobrir. Nestes dias quentes de Verão, em que apetece encontrar cantos frescos e confortáveis, a Cafetaria do Cinema S. Jorge é um lugar a fixar. Ali a calma, impregnada nas paredes antigas revestidas a madeira, escorre suavemente pelo soalho e impregna-se na nossa alma.    

O tempo parou ali à porta, a entrada, a escadaria e lá em cima, mesmo ao fundo, descobre-se um espaço que mantem a mesma classe de outros tempos. A varanda abre-se para a avenida, a fazer lembrar Paris e aqueles cenários que o Instagram tornou um clássico.

Lá dentro, a luz difusa convida a conversas descontraídas e calmas, sendo por isso mesmo o lugar perfeito para uma refeição simples no centro da cidade ou uma bebida fresca entre dois dedos de conversa. Os preços também são uma agradável surpresa e a comida, fresca a caseira, deixa-nos com vontade de regressar em breve. Apesar de ser Verão, o bolo de bolacha deve fazer parte da escolha para que seja realmente uma refeição feliz.

Um espaço onde a tradição e o glamour convidam a que se aproveite este espaço tão central e que tem dentro de si tantas e tantas histórias para contar.

 

Para os que não conhecem tão bem, o Cinema S. Jorge, em plena Avenida da Liberdade, Lisboa é um dos últimos grandes símbolos de uma época em que a arquitetura marcou profundamente a cidade, deixando para a história edifícios e detalhes deslumbrantes. Muitos perderam-se, mas o Cinema S. Jorge continua até hoje tal e qual como no seu início, sendo por isso um símbolo emblemático da cidade. O projeto é da autoria do arquiteto Fernando Silva e a sua construção é dos finais dos anos 40 do seculo passado, tendo sido inaugurado em 1950, com o filme “Os Sapatos Vermelhos”, da dupla de realizadores Michael Powell e Emeric Pressburger, ano em que ganhou o Prémio Municipal de Arquitetura.

A sua história tem sido um pouco atribulada, com a Sociedade Anglo-portuguesa de Cinemas a pedir autorização à Camara de Lisboa, em 1974, para transformar a sala num complexo de três cinemas. Este pedido só viria a ser aceite em 1980, sendo o novo projeto da autoria do Engenheiro Artur Pinto Martins.

O espaço volta a abrir portas ao publico em 1982 com a estreia do filme “For your Eyes Only”, com a presença do ator Roger Moore.

Em 2000 o cinema volta a encerrar portas e em 2001 a Camara de Lisboa exerce o direito de preferência e compra o espaço por um milhão de contos. Em novembro do mesmo ano, o mítico cinema reabre ao público com o objetivo de acolher alguns dos principais festivais de cinema: Indie Lisboa, Festa do Cinema Francês, Doc Lisboa, Mostra de Cinema Brasileiro, Queer – Festival de Cinema Gay e Lésbico, entre outros. Em 2003 a EGEAC assume a gestão do espaço. Neste momento e devido ao Covid a programação tem sofrido algumas alterações, mas a cafetaria está a funcionar e pronta para nos receber com um sorriso carinhoso no olhar.


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