Quinta do Rio Touro – Muito charme em perfeita comunhão com a natureza
De vez em quando acredito que Deus abana suavemente os seus
lápis de cor mágicos, onde se descobrem mil tons misturados com outras tantas
sensações arrebatadoras, e desenha, no nosso mundo, uma realidade perfeita.
São pequenos detalhes numa tela imensa, que podem passar
despercebidos se não estivermos atentos, mas que quando paramos, mesmo que seja
só para olhar, sentimos derramar sobre o nosso interior uma paz, uma
tranquilidade e uma beleza tão suave que não existem palavras que possam descrever tudo o que se sente.
A Quinta do Rio Touro https://www.quinta-riotouro.com/ é
um desses lugares. Trata-se de uma casa familiar, situada num vale, numa
pequena encosta, onde se ouve correr, por entre arvoredo, o Rio Touro.
Localizada em pleno Parque Natural Sintra-Cascais, mais propriamente na Azoia,
uma pequena aldeia situada a cerca de um quilometro do Cabo da Roca, está próximo
de Cascais, de Sintra e de Lisboa e ao mesmo tempo tão afastada da agitação e
da confusão das grandes cidades, o que a transforma num lugar em plena comunhão
com a natureza.
A viagem de Lisboa foi rápida, o início de tarde prometia
ser quente e o carro deslocava-se suavemente pela A5 em direção a Cascais. A
música conduzia-me com doçura enquanto ia tomando consciência da mudança
natural da paisagem. Quando saí da estrada principal para entrar no caminho
mais rural que dá acesso à quinta comecei naturalmente a relaxar e a deixar-me
levar pelo ambiente que me rodeava. Diz-se que existe uma mística especial
neste lugar, e mesmo tentando manter o sentido critico, não posso deixar de
pensar que Azoia ou Zauia é a denominação para um edifício religioso muçulmano,
um lugar onde se executam práticas espirituais e se enterram os Santos.
De volta à realidade dou por mim a imaginar que aquelas
curvas da estrada conduzem, com delicadeza, para outros tempos, ou mantem-nos
na atualidade, criando uma sensação de que o tempo é talvez um conceito criado
pelo homem, para justificar a vida, já de si tão efémera.
Ao sair do carro senti de imediato que o calor abafado de
Lisboa tinha ficado para trás, ao olhar para o lado, um edifício baixo e muito
bem cuidado separava-nos de uma realidade intemporal que nesta altura eu ainda
não conseguia antever.
A entrada, mais uma vez a fazer lembrar outras culturas, é
feita para um pequeno pátio onde uma mesa de madeira, acolhedora, que nos traz
a promessa de refeições saudáveis e de uma convivência saudável. Mas este é só
o começo, a casa, ou o conjunto de pequenas casas, cuidadosamente unificadas, é
para descobrir devagar e os três quartos, sendo que pelas suas características
merecem a denominação de suites, estão todos imaculadamente cuidados. Sente-se
uma quietude, que só é quebrada pelo pacato borbulhar da água que corre ao
longo do rio e que se faz notar através das janelas, abertas para o mundo,
dispostas a abraçar de uma só vez toda a energia positiva que a natureza nos
oferece.
Mas para perceber bem a Quinta do Rio Touro é preciso
conhecer a sua história. Ana Reino, proprietária e a alma da quinta, decidiu
relançar o que já tinha sido um negócio de família, num espaço recuperado a
partir de uns edifícios em ruínas, e em cuja reconstrução foram utilizados
materiais como azulejos e madeiras, recuperados de uma antiga quinta que foi
propriedade da família, em Lisboa.
Se só por aqui já podemos antever o surgimento de um lugar
excecional, é ao deslizar suavemente pelo espaço da que vamos descobrindo
pequenos tesouros cheios de recordações para a família, a decorar o espaço, e
que se olharmos com cuidado, percebemos que contam histórias sem fim. Histórias
de quase todo o mundo, uma recordação viva do patriarca da família, o
Embaixador Fernando Reino, que não deixou obra publicada onde fosse possível
conhecer melhor a sua carreira, uma vez que se cruzou com períodos tão
marcantes da nossa historia como o 25 de Abril, altura em que coordenou a
Comissão Nacional de Descolonização, mas deixou as suas memórias contadas em
todos os objetos que engradecem a Quinta do Rio Touro. É da sua passagem por
lugares como Oslo, o seu primeiro posto como chefe da embaixada, do período que
esteve colocado na NATO, então em Paris, da sua passagem por Tóquio, Madagascar,
Cabo, Tunis, Genebra e até Espanha, que se descobrem peças únicas, que criam
também uma atmosfera singular, como se para além do poder para fazer o tempo
parar, aqui também fosse possível conseguir que o mundo esteja unificado e em harmonia,
num só lugar.
Cá fora, no jardim, árvores de fruto e trepadeiras, com a
ajuda da brisa primaveril, espalham o seu aroma puro pelo ar. Algumas arvores
exóticas remetem-nos de novo para viagens a destinos que habitam na nossa
imaginação e disposta como um detalhe, a horta biológica, cuidadosamente
cuidada, espreita por entre tufos de flores e hortênsias.
Mas a piscina, tão perfeita e tão bem integrada no ambiente
que se vive, é a promessa de um banho refrescante. Por esta altura a tarde já
ia longa e enquanto visitava os quartos, com vista para este jardim
cuidadosamente amado, quase que achei que pequenas fadas podiam estar a
esvoaçar ao de leve por cima da piscina, brincando enquanto molhavam os seus
pequenos pezinhos e davam gargalhadas de alegria.
Se não estavam na piscina, então de certeza que passam
nestes dias quentes para se refrescar no lago, um lugar também encantador, onde
os peixes navegam ao sabor do vento e o mais antigo, com talvez uns 20 anos,
vem comer à mão da Ana Reino, dando pequenas torrinhas de agradecimento e
simpatia.
A Quinta do Rio Touro não é só mais um alojamento local, é
um lugar que a família Reino abriu ao mundo e que partilha de coração aberto
com todos, tal como partilha os produtos da horta, prepara pratos para os hospedes,
levando ao expoente máximo a arte de bem receber, com perfeição, muito bom
gosto e muita educação.
Um lugar mágico, tranquilo, único porque só podia existir em
Portugal e especial porque localizada num vale em Colares, nos leva a descobrir
o mundo inteiro. Não será o lugar a escolher por uma família com filhos, exceto
nesta altura de confinamento, mas é perfeito para desligar do mundo. E a
propósito de desligar do mundo preparem-se porque não existe sinal de telemóvel
e wi-fi só está disponível nas zonas comuns da casa. Acreditem, aquilo que pode
parecer um sacrifício no início, acaba por se tornar uma bênção com o passar dos
dias….
Referencias:
https://duas-ou-tres.blogspot.com/2018/04/fernando-reino-19292018.html
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