Sauvage – O mundo à mesa











Estamos no final de fevereiro e hoje, em Lisboa já se sente a energia de um dia de primavera. O carro dizia-me que estavam 22 graus quando regressei de almoço e o céu limpo dava à cidade um tom claro e vibrante, apesar do transito e da confusão, habitual num dia de semana.

Mas não é só o calor, a luz e tempo faz Lisboa especial num dia quente de final de inverno, junto com a promessa dos dias que vão crescendo, os quintais e terraços nas traseiras dos prédios, a dar também para as traseiras das casas dos vizinhos, criam uma atmosfera acolhedora e excelente para degustar uma boa refeição na companhia de amigos ou então para embalar de energia positiva, negócios que também passam por ali.

O Sauvage, na António Serpa engana. Olhamos de fora e vimos um espaço simpático, mas aparentemente pequeno e quando entramos vamos descobrindo o mundo, sim descobrimos o mundo num lugar tranquilo e acolhedor, que se estende por várias salas e recantos, e termina numa esplanada ao ar livre e descobrimos o mundo à mesa, com pratos vibrantes, cheios de cores, sabores e influencias de moçambique, índia, europa de leste e de tantos outros lados. Sentamos-mos à mesa e o mundo senta-se connosco, se nos deixarmos levar, a conversa flui e a nossa imaginação também. O silencio é recortado por pedaços de conversas de pessoas do prédio, que desfrutam de umas bebidas junto à relva e todo o ambiente recriado, faz-nos lembrar, numa versão muito moderna, os antigos quintais de Lisboa, que quem por cá morou nos anos 70 e ainda 80 conhece bastante bem e se for como eu, recorda com saudades.

A ementa é variada e tem algumas novidades em relação à antiga carta mantendo os pratos que tiveram mais procura. Das entradas, entre o Tártaro de Salmão e o Foie Gras tive alguma dificuldade em escolher a que mais gostava porque se os sabores harmonizam muito bem entre si e não podemos esquecer que os olhos também comem e neste caso, só de olhar, já aprovamos o que vamos degustar, contudo a minha preferida foi Bao de pato, o gengibre dá-lhe um toque muito especial, quebra um pouco da intensidade e da gordura natural do pato e ao mesmo tempo, confere um toque de requinte, conferindo equilíbrio ao prato.  

O Lombo de bacalhau lascado tinha detalhes de sabores surpreendentes e quanto às Bochechas de Porto Preto, um prato que conhecemos bem na sua versão tradicional, foi também aqui recriado, dando-lhe uma vida que provem de influências de outras paragens.

Nas sobremesas a Panna cotta é suave, tal como as pequenas pétalas de flor que a decoram e o Pudim Abade de Priscos aparece acompanhado de lemon curd e de um aveludado gelado de avelã, três grandes amigos que já se devem conhecer há muito tempo porque combinam na perfeição.

Para beber, apesar da carta de vinhos ser tentadora porque apresenta propostas de pequenos produtores nacionais eu optei por um cocktail sem álcool, onde o ananás era o rei e a frescura uma tentação, neste caso não tinha a cereja no topo do bolo mas tinha pedaços de ananás no topo da bebida, numa pequena caixinha, que me permitiu ir “brincando” com a bebida durante toda a refeição.

A ementa apresenta várias sugestões de entradas, massas e risotto, saladas, e depois uma seção do mar, da terra e sobremesas.

Haveria melhor forma de celebrar antecipadamente a chegada da primavera em Lisboa? Penso que não!

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