A Sorte de Ter Uma Terra, Descubra a Minha
Quando era miúda e morava em Lisboa, quando diziamos que vínhamos
à terra, queria dizer que vínhamos às Caldas. Essa era uma expressão comum e só
muitos anos mais tarde é que percebi que quem tem uma terra tem mesmo muita
sorte.
Embora tenha nascido em Lisboa tenho uma terra e é sempre
bom voltar e descobrir novidades. Quem
pensa que a vida nas aldeias parou engana-se, de facto por lá ficaram os
velhotes mas sente-se agora uma nova vida fruto da valorização das mesmas, do
regresso de alguns que estiveram fora e da compra de casas para turismo rural e
para residência de estrangeiros. Estas novas dinâmicas vieram trazer um novo
alento e as gentes velhas, curiosas, sorriem por sentir que a vida das pequenas
aldeias pode afinal não estar condenada.
Nas Caldas da Rainha e até amanhã decorre a Expotur, um
certame que reúne num só espaço musica, gastronomia e exposição de artes e
saberes das freguesias daqui. Todos os dias é casa cheia porque este é, nos
primeiros quinze dias de Agosto, um local de encontro de amigos e família e de convívio
à volta de uma mesa repleta de boa comida caseira.
Eu nunca falho as velhozes e o café da avó, uma tradição
antiga e saborosa que merece ser preservada. Tradicionalmente feitos na época do
Natal, as velhozes ( ou filhoses ) são feitas durante todo o ano e sempre que
há um motivo para uma reunião familiar, e sempre acompanhadas do café de saco.
Por tradição ou para aconchego, há sempre uma vizinha que amassa a farinha,
frita a massa e partilha numa festa e até nos velórios da aldeia, durante as frias
noites de inverno.
Foi numa ida à Expotur que me deram um folheto sobre o que
existe para descobrir em Alvorninha. Sendo a maior freguesia das Caldas da Rainha,
preserva muitas tradições. O que vou fazer é partilhar com vocês o roteiro que
eu segui e convidar-vos a descobrir a minha terra, ou a fazerem o mesmo na
vossa. O mês de Agosto ainda dura, desafio-vos a conhecerem a fundo as vossas
origens.
Podem começar por descobrir o Mercado de Santana (
coordenadas 39.382911,-8.984650), que funciona todos os domingos durante o período
da manhã. Aqui vão encontrar tudo o que precisam porque se vende mesmo de tudo!
Num espaço amplo é possível comprar mobílias, alfaias agrícolas, comida e
bebida, roupas e traquitanas, brinquedos e tecido a metro, atoalhados, animais
vivos e mortos, plásticos e barros, almoço para levar para casa, petiscos para
comer enquanto se passeia. Um fenómeno de popularidade o Mercado se Santana é
procurado por gente de todo o lado. Calce uns ténis e venha passar uma manhã de
forma diferente e leve dinheiro porque vai mesmo fazer umas compras fantásticas.
A Ponte Romana ( 39.402735,-9.083607) foi uma descoberta
para mim, pouco depois de sair das Caldas e parando na estrada principal, do
lado direito e entre campos agrícolas lá está ela, com um ar jovem como se tivesse
acabado de ser feita. É para o carro com cuidado e tirar umas fotos, uma ponte
romana é sempre um motivo de orgulho.
( a adicionar em breve)
Dali pode partir à descoberta do Moinho de madeira das
Boisias ( 39.410768,-9.055561). recentemente recuperado, está aberto na última
sexta feira de cada mês. Se não for
nessa altura pode apreciar a vista espetacular e aproveitar o ar puro que se
respira por ali. Com o silencio pode-se ouvir uma cantilena muito suave, é o vento
que ao passar pela estrutura de madeira cria um som que combina muito bem com a
natureza.
Continuando à descoberta de Alvorninha, não muito longe encontra
os Carvalhos de Santa Marta ( 39.404851,-9.046793). Muitos antigos e muito bem
cuidados, a sua estrutura oferece uma sombra acolhedora. Também aqui o silencio
é de valorizar, aproveite porque é tão raro e deixe-se ficar ali enquanto o seu
organismo relaxa.
Para o fim ficou a Barragem de Alvorninha ( 39.384785,-9.030434).
Já a chegar à aldeia, encontramos a barragem que foi feita para fornecer agua
aos campos agrícolas que a rodeiam. Com o passar dos tempos a barragem foi
ganhando vida própria, também aqui o silencio é precioso, penso sempre que será
inevitável o aproveitamento da barragem para o turismo mas até agora o que
podemos encontrar é uma vastidão de agua e a natureza.
E chegamos a Alvorninha ( 39.383010,-9.036987). No café do
largo, à sombra, uns velhotes falam animadamente. É parar o carro e fazer de
turista, vale a pena ver a igreja, fechada durante a semana, o monumento aos heróis
da freguesia que morreram na guerra do Ultramar, a capela antiga que só abre em
ocasiões especiais. Alvorninha tem multibanco, Caixa de Crédito Agrícola,
escola, centro de dia e a sede da junta e um pavilhão de multidesportos que é
também a casa da festa anual que se realiza no primeiro fim de semana de Agosto.
De uma forma simples, aqui tem de tudo para ser feliz, mesmo que não mude a sua vida, volte
às suas origens, as férias também são para essas coisas.
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