Os mil Tons dos Azulejos
Era início da tarde quando cheguei a A-dos-Francos, ao
Atelier Sá Nogueira.
O sol entrava generosamente, passeando-se no atelier por
entre peças de cerâmica, pequenos quadrados que têm dentro de si centenas de
anos de histórias para contar.
A luz clara dava ao espaço um toque de primavera, num dia de
outono, inspirando a criação. Ao fundo, o espaço onde os azulejos nascem, mais
escuro e reservado, confere a mística necessária para quem se orgulha de
acreditar no poder que existe dentro de pequenos quadrados de azulejo, pintados
com cores que nos representam tão bem.
A vida que existe dentro do verde, do amarelo, do branco, do
azul, do castanho. A força que salta do relevo, da combinação harmoniosa de
cores, do cuidado com que cada bocadinho é trabalhado, do carinho que se sente,
do olhar profundo, que encerra dentro de si mais de 20 anos de histórias, a
construir sonhos, a dar vida a projetos. E pensar que tudo começou numa altura
em que se calhar poucos acreditavam porque não valorizavam e não reconheciam o
quanto de todos nós existe dentro daqueles pequenos quadrados, tão frágeis e,
contudo, tão robustos.
Depois, de azulejos nasceram pequenas caixas, onde podemos
guardar o nosso mundo ou bocadinhos deles, que ali ficam esquecidos, à espera de
que alguém tenha curiosidade e levante cuidadosamente a tampa….
A-dos-Francos, terra que repente ficou conhecida devido à
prova brilhante do atleta João Almeida, o jovem ciclista que recentemente manteve
durante 15 dias a camisola rosa no Giro d'Italia, tendo terminado a prova em 4º
lugar, é o lugar onde descobrimos o Atelier Sá Nogueira Azulejaria, um espaço
que se dedica à investigação, desenvolvimento, divulgação e valorização da azulejaria
nacional, recriando objetos decorativos onde o alinhamento com a tradição é um
dos elementos fundamentais.
Estes pequenos objetos de arte, são também peças utilitárias
e decorativas, sendo vendidas para museus e lojas a nível nacional, mas também
para o estrangeiro. O rigor na recriação levou à investigação das formas exatas
dos azulejos. Começaram por recriar o estilo utilizado no século XV e XVII e
passaram posteriormente para o estilo hispano-árabe.
As cores enchem os olhos, e a variedade leva-me durante
momentos para outros tempos. Uma sensação de vários momentos da história a
atravessar a minha mente, em pequenos flashes de luz, que só pode ter
acontecido pelos tons carregados de vida que me rodeiam.
Para produzir cerâmica é preciso ser criativo, mas também
dominar as técnicas da produção e não descuidar nos detalhes do embalamento. Artesãos
dos tempos modernos que combinam padrões, texturas e cores, usando os azulejos
para contar a nossa história, criando murais e painéis onde os detalhes são o grande
segredo. É aqui que se casa o tom de salmão com o verde, um pouco de amarelo e
branco, ou então o verde, o castanho, o amarelo e o branco, e ainda os azuis, o
amarelo e o branco, e tantas, tantas combinações, em que aos originais verde,
amarelo, castanho e azul se junta muita arte, conhecimento, e outros tons que
ajudam a embalar os sonhos, e a levar as cores de Portugal, que já não são só o
vermelho e o verde, mais longe, até onde
o sonho fizer sentido.
Parabéns pelo artigo e aos Artesãos do "Atelier Sá Nogueira", projeto pessoal que muito dignifica a azulejaria em Portugal, pelo seu profissionalismo e o saber fazer, onde as mãos são a ferramenta primordial neste trabalho.
ResponderEliminarObrigada. De facto um trabalho e que merece ser divulgado e essa é uma das missões do meu projecto, promover as marcas e empresas do Oeste
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