Queijadas, Magalhães e Charutos - Descobrir o lado doce de Portugal
Este ano vai ser muito difícil conseguirmos ir de férias
para fora do nosso país. Este era um hábito recente, mas já muito enraizado, em
que aproveitávamos as pausas que tínhamos para descobrir novos lugares. Viajar,
com a oferta das low cost, tornou-se muito barato e passou a fazer parte dos programas
de férias de muitos.
De repente, este vírus obrigou-nos a mudar os nossos projetos
e o lado bom, já tantas vezes anunciado, é que vamos ter tempo para descobrir
Portugal.
Penso que é aqui que coloca um grande desafio que é o facto
de não estarmos habituados a olhar para as férias em Portugal como fazemos
quando vamos viajar para fora. É que enquanto estivemos ocupados a conhecer o
mundo, o turismo em Portugal foi descoberto pelos estrangeiros e mudou. Para além
disso as agências de viagens também se estão a adaptar e já disponibilizam ofertas
cá dentro, que não inclui só alojamento. Programas preparados por especialistas
e que podem incluir alojamento, um conjunto de atividades na região e várias
sugestões que permitem que possa usufruir de umas férias organizadas e em
segurança.
Se optar por tratar de tudo, então dedique algum tempo a pesquisar
sobre o lugar que escolheu para descomprimir com a família ou amigos. Só porque
estamos em Portugal não quer dizer que já conhecemos tudo, a oferta é cada vez
mais diversificada e existe, de norte a sul, várias empresas de animação turística
que disponibilizam uma oferta de grande qualidade e que nos pode proporcionar
momentos únicos e inesquecíveis.
A gastronomia faz parte do que temos de melhor para oferecer
pelo que sugiro que antes de iniciarem uma viagem descubram um pouco sobre
especialidades locais e quais os melhores lugares para degustar os sabores e
saberes regionais.
Este fim de semana estive em Ponte da barca e no Gerês e
convido-vos a vir descobrir esta região comigo.
Para começar não consigo imaginar um lugar sem pensar na
riqueza gastronómica. Como fiquei alojada em Ponte da Barca vou-vos apresentar
as Queijadas de Laranja e os Magalhães da Pastelaria Liz, mas não posso deixar
de parte os Charutos dos Arcos.
Fundada em 1976, a Pastelaria Liz anuncia a Queijada de
Laranja, uma receita muito antiga, de família, como sendo “um doce exclusivo. Com
original sabor a laranja portuguesa. Uma receita tradicional dos nossos avós,
transmitida de geração em geração, mantendo o segredo e o afeto que a torna um
doce tão especial”.
Claro que eu provei a Queijada e também o Magalhães. Destaque
para o aspeto caseiro, que nos dá uma confiança extra. Não nos deixemos enganar
com esta ideia de que porque tem um ar caseiro houve menos cuidado na embalagem,
pelo contrario, foi feito com todo o cuidado, sendo que o Magalhães se
apresenta com uma pequena vela que nos leva para os descobrimentos e a queijada
é vendida envolvida individualmente, num papel protetor. A massa folhada,
desfaz-se em pequenos pedaços crocantes, cujo sabor casa na perfeição com o
recheio, rico e saboroso.
Estes podem ser considerados como os doces de Ponte da Barca,
sendo que os Magalhães fizeram parte dos candidatos às “7 Maravilhas Doces de Portugal”,
mas não chegaram à final, ao contrário dos Charutos dos Arcos que haviam de
ficar entre os vencedores da edição de 2019. O invólucro exterior dos Charutos é
feito com massa de hóstia e o recheio, muito cremoso sendo que os mais curiosos
podem encontrar a receita neste link, havendo charutos atualmente com variantes
à receita original e que incluem amêndoa, raspa de laranja ou doce de gila.
Pessoalmente gosto bastante dos Charutos, um dos nossos
tradicionais doces conventuais, mas prefiro as queijadas porque são menos doces
e estão também intimamente ligadas à nossa tradição gastronómica e doceira.
A queijada é um pequeno bolo, confecionado com queijo ou
requeijão, ovos, leite e açúcar sendo que existem queijadas variadas, de norte
a sul de Portugal, numa adaptação natural da receita aos produtos regionais de
maior abundância em cada lugar. No
Brasil encontramos a Queijadinha, de origem portuguesa, mas que
haveria de receber também influência da cultura dos escravos africanos com a
introdução por exemplo do coco como um elemento importante na sua confeção.
Voltando a Portugal, para descobrirem mais sobre as queijadas
nacionais e a sua relação com a historia regional, sugiro a leitura do blog do gastrónomo
Virgílio Nogueiro Gomes, http://www.virgiliogomes.com/index.php/cronicas/946-queijadas-de-murca
.
As queijadas têm a vantagem de se manterem saborosas por
diversos dias, sendo excelentes num dia frio, com chá, nos dias quentes com um
refresco ( pessoalmente gosto bastante de mazagran caseiro ), ou no final de
uma refeição a embalar um digestivo.
A doçaria portuguesa é das melhores do mundo - atrevo-me a colocá--la no pódio. É duma variedade (qualitativa) impressionante, que abrange todos os palatos.
ResponderEliminarLá diz o ditado de que o que é dôce nunca amargou. Mas a nossa doçaria é suficientemente rica para captivar mesmo quem não aprecia dôces.
Delicie-se com esses nossos tesouros, Teresa.