Santo Antão, a música e a paz de espirito
A música faz sempre mais sentido quando é ouvida no sítio
onde nasceu. Foi este o pensamento que me veio à cabeça quando o condutor do carro
que nos transportava colocou umas mornas a tocar.
Os acordes suaves invadiram o ar quente e o tempo parou. Eu
senti um arrepio que invadiu o meu corpo. Ficava para sempre a ouvir aquela música
que nos fala da simplicidade e da fatalidade do amor, a saudade de outra vida
que não vivi, a paisagem a perder de vista.
Quem viaja nunca regressa igual, outra frase que de repente
invadiu a minha mente. Como posso regressar igual se consigo sentir os acordes
da música, gravados em mim? Não tenho nenhum CD com mornas, nem quero porque
aqui não fazem sentido, no entanto, para escrever este texto fui ao youtube e
escolhi ao acaso, e lá vou eu….De novo embalada, ao ritmo destes sons melancólicos
que nos conduzem e nos seduzem.
E onde estava eu? Em Cabo Verde, não importa a ilha, o
sentimento é igual em todas. Nunca as frases “no stress” ou “ta tudo dread”
fizeram tanto sentido como quando estamos por lá…
Mas vamos imaginar que estava em Santo Antão, de origem vulcânica,
uma das umas das nove ilhas habitadas de Cabo Verde, a segunda maior do
arquipélago em superfície e a terceira em população. Esta ilha foi descoberta por
Portugal em 1462 e começou a ser colonizada, com fraco sucesso, em 1548.
Atualmente os principais centros populacionais estão
localizados em Porto Novo, Ribeira Grande e Ponta do Sol, onde se localiza o
aeródromo, atualmente desativado.
Santo Antão tem uma parte árida, voltada a sudeste e uma
zona verde a nordeste. A sua estrutura, montanhosa e cheia de escarpas ingremes
deve-se à sua origem vulcânica. Muitos vulcões são relativamente jovens e a
suas caldeiras deram origem a excelentes terrenos cultiváveis. Essencialmente agrícola,
as principais produções da ilha são cana-de-açúcar, inhame, mandioca, banana,
manga e milho. A pesca tem também um papel importante na economia da ilha. Uma
das principais produções da ilha é também o grogue, um tipo de aguardente feita
a partir da cana-de-açúcar, muito popular na região, seguido do ponche de
frutas variadas.
Nos últimos anos a importância do turismo tem vindo a
crescer na ilha. A paisagem montanhosa e o contraste com o verde atrai os turistas
que procuram um local simples e tranquilo para relaxar. A ilha possui ainda uma
vasta rede de trilhos, criadas para uso das populações mas que se tornaram um
forte atrativo para longas caminhadas, para o turismo-aventura e o ecoturismo.
O acesso faz-se por barco, que também transporta carros e
mercadoria. Existem ligações diárias entre Porto Novo e São Vicente que fica a
pouco menos de uma hora de viagem.
Para circular na ilha, existe a espetacular Estrada da
Corda, empedrada, construída nos anos sessenta do século XX e que nos leva até
aos municípios da Ribeira Grande e do Paul calcorreando os vales da Ribeira
Grande e da Ribeira da Torre. A fazer contraste, a surpreendente e estimada nova
estrada litoral Porto Novo-Janela, que foi inaugurada em maio de 2009. É uma excelente
estrada asfaltada que permite o acesso aos municípios do Paul e da Ribeira
Grande, na costa nordeste da ilha. Tem cerca de 23 quilómetros de extensão,
incluindo os dois primeiros túneis rodoviários de Cabo Verde, o túnel do Farol
e o túnel de Santa Bárbara, com 240 e 340 metros de comprimento, respetivamente.
Nesta viagem a Santo Antão tivemos vários privilégios, o
principal, a nossa guia, a Sandra, uma mulher do mundo. Filha de mãe francesa e
pai português trocou a civilização por Santo Antão e diz que é feliz com a
felicidade estampada no olhar. Levou-nos a almoçar no terraço de casa, voltada
para as montanhas. Sentimos o calor de quem dá sem pedir em troca e tivemos o privilégio
de saborear a verdadeira comida cabo-verdiana bem como o seu magnífico café,
virados para a montanha, com uma paisagem de tirar o folego….
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