Choriro e a Gorongosa
Num reino muito, muito longe, numa época em que Africa era
um mundo e a Europa outro, existiu um rei branco no vale do Zambeze. Recentemente,
Ungulani Ba Ka Khosa, escritor moçambicano nascido em 1957, em Inhaminga, província
de Sofala, Mocambique, passou a sua história para livro, retratando a vida do rei
Nhabezi, também conhecido por Luís António Gregório mas também nos contou as aventuras
dos seus conselheiros, guerreiros e até das suas mulheres, numa trama que nos envolve
nas suas histórias complexas, relatando factos quase esquecidos, sobre culturas
nativas e o arranque do colonialismo mercantil.
Choriro não pretende ser um livro histórico. Apresenta-se ao
leitor como “uma narrativa histórica em que factos e personagens verdadeiros se
entremeiam com factos e personagens imaginados pelo autor”. Por aqui contam-se histórias
de gentes de outro tempo, que ficaram esquecidas no passado e são agora trazidas
de novo à vida pela mão deste escritor, que integra a lista dos 100 melhores autores
africanos do séc. XX.
No entanto para se entender melhor um livro é preciso estar
a lê-lo enquanto se viaja ou reside lá, no local onde decorre a ação. Só assim
se pode sentir tudo o que os protagonistas sentiram no passado, porque um livro
também traz consigo cores, cheiros e sabores. A perceção de um livro muda muito
se o mesmo for lido no local em que a história decorreu.
O que nos conduz à segunda parte desta história que sugere
num só texto um livro e um destino. A Gorongosa não entra na narrativa relatada
em Choriro mas fica em Moçambique e conta nos dias de hoje, a verdadeira história
de Africa, dos animais selvagens, das terras a perder de vista, da natureza
bruta e crua, do calor, da sobrevivência e do por do sol de tirar a respiração.
Isto é Africa.
Mas não é só isto, é cor, são cheiros, são sorrisos, é tranquilidade,
é o voltar às nossas origens, isto é o que tem em comum o livro Choriro e o
grande parque da Gorongosa.
O Parque Nacional da Gorongosa, com cerca de 10.000 quilómetros
quadrados no Grande Vale do Rift Africano no centro de Moçambique, sofreu muito
com o efeito da guerra, ou melhor, os animais que lá habitam foram as grandes
vitimas anonimas desta guerra.
Atualmente existe um interesse crescente pela região que se
reflete também a nível internacional pelo que não surpreende o “Howard Hughes
Medical Institute” (HHMI) ter divulgado um apoio para os próximos cinco anos no
montante de $2,3 milhões de dólares para atividades educativas e para o desenvolvimento
de infraestruturas no Parque.
Este programa será levado a cabo pelo Projeto de Restauração
da Gorongosa (PRG), que tem estado na linha da frente no combate à perda de
biodiversidade. Nos últimos dez anos, o PRG tem apoiado os agricultores locais,
tem construído postos de saúde e escolas, reconstruiu infraestruturas do
Parque, contratou e treinou fiscais, reintroduziu diversas espécies animais no
ecossistema e restabeleceu a indústria do turismo na Gorongosa. Em 2014, o PRG
comemorou a inauguração do Laboratório de Biodiversidade E.O. Wilson, que tem
como objetivos aumentar a investigação no Parque e o ensino científico a
estudantes Moçambicanos.
Este é um exemplo do que está a ser feito por lá, neste
reino muito, muito longe, agora já mais perto da Europa, que luta para
preservar o seu bem mais forte- a sua verdadeira natureza africana.
(Douglas Griffiths, Embaixador dos EUA em Moçambique, Sean Carroll, Vice-Presidente para a Educação Científica, HHMI, Mateus Mutemba, Administrador do Parque Nacional da Gorongosa e Greg Carr, Presidente do "Gorongosa Restoration Project".)
Comentários
Enviar um comentário