Quem viaja muda
A solidariedade
não é só uma palavra difícil de pronunciar, carrega em si uma forte carga
emocional, por vezes difícil de definir. Quando nos vimos envolvidos numa teia
de sensações e sentimentos fortes temos a sensação de que não existem palavras
no mundo que possam traduzir tudo o que nos passa pela mente e pelo coração.
Quando mais conhecemos
o mundo mais alargamos os nossos horizontes. No entanto se por um lado o nosso nível
de tolerância aumenta para com os outros, pelo outro deixamos de valorizar
tanto os bens materiais, começamos a relativizar a importância de algumas
coisas e quando damos por nós percebemos que mudamos e somos seres diferentes.
A maior parte dos que vivem essa experiencia passam a sentir-se felizes com
muito menos, e essa é a sua grande compensação.
Quando viajamos
para alguns locais onde as pessoas são felizes com pouco começamos a ponderar a
vida que levamos em casa. Alguns mudam e tentam construir, dentro que que lhe é
possível, um mundo um pouco melhor, o que não é fácil.
Em Africa é fácil
viver esta experiencia.
As fotos deste
texto foram tiradas em Moçambique, na ilha de Bazaruto. Por estes caminhos por
onde andamos não existe qualquer tipo de luxo, possivelmente por isso é dos
locais onde é possível aprender mais sobre os valores da vida.
Quando fazemos
uma viagem destas o que vem connosco? As casas são pobres mas não existe
qualquer tipo de sujidade ou de abandono à vista, tudo está impecavelmente
limpo e asseado. A solidariedade corre nas veias deste povo, as crianças que
não foram à escola ficam nas aldeias mas não estão abandonadas, são criadas em
grupo, têm a sorte de ter ar livre para brincar, comida livre de aditivos para
comer e apoio de um adulto que surge se algo correr menos bem. Nas escolas o
material escolar é estimado e respeitado por todos por ser um bem muito raro
por ali. Da boca dos miúdos é possível ouvir que é muito importante estudar
para ter um futuro melhor e os cadernos da escola, de bem estimados que estão,
são de fazer inveja a muitos estudantes dos países ditos desenvolvidos. Por ali
os abraços são calorosos, o riso fácil e os miúdos olham-nos dentro dos olhos,
com uma felicidade verdadeira estampada no rosto.
Assim é fácil ficarmos
presos e querermos ajudar pois sentimos que eles merecem. Existem escolas com muito
pouco material escolar disponível e que vivem muito do apoio que vem de fora, e
existe tanto para fazer por lá…. A escola agradece toda a ajuda e a população
local também. A maternidade é uma casa simples, de cimento, com quatro paredes
e pouco mais, à semelhança da escola. No entanto mais uma vez salta a vista o
cuidado com que tudo é tratado por ali.
Na escola, no
meio de risos e abraços quentinhos, prometi a mim mesma que iria tentar ajuda um
pouco aqueles miúdos, acabamos por nos sentir incomodados por receber tanto e
não ter nada para lhe dar.
Existem várias
organizações que trabalham em colaboração com as autoridades locais e até os hotéis
estão habituados a receber bens para entregar aos responsáveis das aldeias. O
turismo é a oportunidade para terem um emprego e uma vida um pouco melhor e
existe uma teia de apoio local muito desenvolvida. E o turismo deve ser também
isto, uma forma de ajudar a desenvolver as comunidades, contribuindo para melhorar
o seu bem-estar.
“
Não há
Desenvolvimento sem Educação!
Não haverá
Futuro sem Saúde e Escolas!”
Um dos projetos
que fomenta o desenvolvimento local é o SIM – Solidariedade Internacional para
Moçambique. De acordo com o seu site, algumas das principais carências e
problemas identificados numa das escolas da Ilha de Bazaruto são:
Fracas
infra-estruturas na escola
Ausência de
condições sanitárias básicas
Ausência de
refeições diárias na escola
Para ir à
escola os alunos percorrem diariamente 10 km
Não há oportunidades
de progresso profissional na ilha
Falta de
material escolar
Formação dos
professores é deficitária
Limitação
curricular na escola de Sitone – só até ao 7.º ano
O trabalho que
está a ser feito por lá merece ser conhecido e divulgado, no entanto muito pode
ainda ser feito nomeadamente a nível do turismo, para ajudar a proporcionar às
populações locais um melhor nível de vida, ajudando-as a fixar raízes na região
onde nasceram, mas com uma qualidade de vida no mínimo satisfatório para si e
para os seus filhos.
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