Uma Caneta
Hoje, estava a arrumar a minha secretária quando encontrei
esta caneta. Deve ser o único objeto que tenho levado sempre comigo e que me
acompanha desde o final dos anos 80.
Era uma miúda quando por acaso entrei para a Radio, a Radio Margem, nas Caldas da
Rainha, que ficava ao cimo da Praça da Fruta. Durante quase um ano fui
jornalista e locutora, mal sabendo nessa altura o quanto aquele acaso iria
condicionar toda a minha vida e apesar de ter acabo por escolher seguir um
caminho totalmente diferente, o gosto por comunica nunca desapareceu, digamos
que na altura, tomei a decisão que me pareceu mais racional, escolhi um emprego
para a vida trocando assim isso por uma vida de rádio. Quando as “rádios
piratas” fecharam em todo o país eu rumei a Lisboa, pouco tempo depois entrei
para a TAP e quando me contactaram a perguntar se queria voltar achei que não
fazia sentido.
Não será por acaso que esta caneta nunca desapareceu, já não
escreve, mas nunca a consegui deitar fora. Aconteceu-me várias vezes, quando
estava para mudar de casa, umas 4 ou cinco vezes na minha vida, quando arrumava
e quando voltava a tirar dos caixotes, a caneta aparecer e eu não ter coragem de
a deitar fora, era como abandonar os sonhos de menina. Depois, para não ter
mais tentações levei-a para a TAP onde ficou esquecida no fundo de uma gaveta,
até que saí da TAP, voltei a pôr tudo em caixotes, ela voltou a aparecer mas
agora já não podia deitar fora esta caneta, tínhamos um compromisso as duas,
era o objeto que caminhava ao meu lado à mais tempo.
Hoje voltei a encontrar esta velha caneta, mesmo sem uso, as
suas letras estão gastas já mal se percebendo o que está escrito, mas isso não
é importante, mesmo que se deixe de ver eu sei exatamente o que ela contem.
Dentro dela em vez de tinta, que secou faz muito tempo, estão os meus sonhos,
está a magia de fazer rádio, de falar para o mundo, de comunicar, de fazer a
diferença, de ajudar a construir os sonhos dos outros.
Dentro desta caneta, azul da cor do céu e amarela da cor do
sol, está ainda uma miúda, de olhos grandes, espantados para o mundo, com um
microfone à frente e uma cabeça cheia de sonhos. Eu e esta caneta temos uma espécie
de acordo, quando eu a vejo não reparo que os anos passaram e ela, quando olha
para mim, continua a ver a miúda, com a cara cheia de borbulhas e a cabeça
cheia de sonhos.
Podemos voltar onde fomos felizes? Sim podemos, as escolhas
são sempre nossas.
Preparem-se, vêm aí grandes novidades
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