As Beiras, à beira do nosso coração
Parte II
Histórias de Belmonte
Belmonte é um lugar onde se descobrem as raízes da portugalidade. Um sítio onde o calor aperta no Verão, contudo, as casas de pedra, fazem lembrar invernos frios e rigorosos, lareiras acesas, tabuleiros de comida fumegante no forno e o bom vinho que acompanha uma típica refeição.
Aqui e ali, esplanadas à sombra convidam ao descanso e os
gatos, que se deslocam languidamente, deixando-se cair, moídos pela canícula
que a todos apanha, fazem o nosso pensamento voar a caminho da paz e da
tranquilidade.
Belmonte está localizado em plena Cova da Beira, junto ao rio
Zêzere, no sopé da Serra da Estrela.
Numa viagem a Belmonte é obrigatório que se conheça mais
sobre o percurso do Cabral, para isso, há que passar pelo Castelo de Belmonte,
no Museu dos Descobrimentos e na Igreja Santiago-Panteão dos Cabrais.
Foi neste castelo que nasceu o descobridor do Brasil e ao
realizar este percurso, que se faz facilmente a pé, percebe-se toda a importância
que esta família teve e tem em Belmonte.
Mas a ligação de Belmonte a marcos da história da humanidade
não se fica só pelos descobrimentos.
Durante a sua passagem por Belmonte, a não perder o Museu
Judaico, a Antiga Judiaria e a Sinagoga. É no museu que a nossa curiosidade aguçada
sobre a comunidade Criptojudaica que sobreviveu em Portugal, se pode mitigar. O
facto de terem sido obrigados a viver em segredo conferiu-lhes uma mística
especial pelo que o museu é o espaço ideal para conhecer melhor o que move este
povo e porque é que estiveram sempre tão bem inseridos na comunidade local.
A presença humana remonta a tempos muito antigos conforme se
pode comprovar com a presença da Anta de Caria, os Castros de Caria e da
Chandeirinha, enquanto que a presença romana é atestada pelos testemunhos da Torre
Centum Cellas ou pela Villa da Quinta da Fórnea, pontos de passagem da via que
ligava Mérida à Guarda.
De volta aos nossos dias, enquanto passeamos por Belmonte descobrimos
marcos importantes. Um deles é o Candelabro “Hanukkah”, que assinala em hebraico
a libertação e a purificação do Templo de Jerusalém.
O outro ponto são os Caminhos de Santiago. Em Belmonte
passam dois caminhos para Santiago de Compostela, o Caminho “Via da Estrela,
desde Cáceres e o Caminho “Nascente”, marcado desde Évora.
E por fim, a casa onde viveu Zeca Afonso, com uma avó e um
tio, após ter regressado de Moçambique. O poeta tem uma placa de homenagem, no
Largo Afonso Costa.
Belmonte preserva até aos dias de hoje um pouco do ambiente
medieval, num misto de influências que chegou até ao interior de Portugal,
vindas de todo o mundo.
Piscina de Alpedrinha, Casas de Alpedrinha
Isto aqui também é Portugal, pode-se ler num recorte dos
anos 70 do que parece um cartaz ou talvez uma notícia de jornal que encontrei
enquanto fazia umas pesquisas na web sobre a piscina de Alpedrinha. Nele, as
fotografias a cores, exibem refletem um tempo passado e o texto leva-nos de
imediato a fazer o paralelo com o presente.
“Sintra da Beira, terra de largos horizontes – Da doce Água
e bons frutos”. O presente apontava para a piscina e o rinque de patinagem e o
futuro para a piscina de água quente, residencial e o parque de campismo infantil.
Passados uns 50 anos, ao visitar as Casas de Alpedrinha,
encontramos a piscina, cuidadosamente conservada, assente numa arquitetura característica
dos anos 50 e que nos leva numa viagem no tempo enquanto abrimos os braços para
mergulhar nas suas águas límpidas, vindas das montanhas, e em renovação
constante. O tempo não passou por aqui, exceto a rampa de saltos que serve
agora só para lembrar Verões muito antigos, tudo o resto se apresenta ao que
descobrimos nas imagens antigas do local. Do restaurante, a vista é ainda mais
convidativa e as casas, construídas um pouco mais abaixo, são modernas e confortáveis,
descobrindo-se que respeitam a vontade do seu fundador. Este é um negócio de família,
que tem passado de geração em geração e do sonho antigo, só não foi acabada a piscina
de água quente, sendo que em breve, esse espaço será aproveitado para melhorar
a oferta das Casas de Alpedrinha.
Alpedrinha foi em tempos escolhido por famílias nobres para
descanso e veraneio. Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, o médico
Francisco de Sá Pereira contrata o arquiteto Keil do Amaral e dá início à
construção deste empreendimento. Ao fim de 3 gerações que cuidam deste projeto,
atualmente as Casas de Alpedrinha procuram a divulgação e preservação da Vila
de Alpedrinha.
Alpedrinha, da história e dos reis
A vila de Alpedrinha respira história e histórias por todo o
lado. Aqui a calma e o silencio dão abrigo a calcadas milenares, a monumentos que
vêm desde o seculo XV e à fonte mandada reconstruir pelo Rei D. João V.
Alpedrinha pertence ao Fundão, e está localizada a 556
metros de altitude, a sul da Serra da Gardunha. Devido ao seu vasto património
e à sua beleza natural é também conhecida como “Sintra da Beira”. É natural
daqui D. Jorge da Costa, fundador da Santa Casa, Cardeal de Portugal ou o Cardeal
de Alpedrinha como era conhecido no Vaticano.
Numa visita a Alpedrinha não se pode deixar de refrescar nas
águas que ainda correm soltas e frescas nas 7 bicas do Chafariz D. João V, de
conhecer o Palácio do Picadeiro que foi recentemente recuperado, a estrada
romana que o circunda, o pelourinho e a Capela de S. Sebastião.
Do terraço do Palácio
do Picadeiro, a vista para o casario e para a serra é magnifica e o silencio é
de ouro. Abaixo, o barulho da água que corre no chafariz, devolve-nos a
frescura que o calor do Verão nos transmite enquanto apreciamos a construção,
onde se descobrem torres de igreja, solares e casas apalaçadas, mandadas
construir noutros tempos, por famílias com poder económico.
Consta-se que os romanos chamavam a esta terra Petratinia e que
será desse tempo um túnel que começa numa das ruas da vila e que ninguém sabe
onde termina…
Vale de Prazeres a ver as vistas
Uma visita às Beiras
não fica completa sem conhecer Vale Prazeres, onde uma estação da CP, com o
mesmo nome, consolida a imagem de uma freguesia do interior, onde nem sempre é
fácil chegar o progresso, mas em que a qualidade de vida compensa tudo o resto.
A natureza farta e forte, dá tudo o que é preciso para que se tenha uma vida saudável,
em comunhão com os princípios mais saudáveis.
Sobre a origem do nome existem muitas dúvidas, mas pensa-se
que, de acordo com foral de 1202, este lugar se chamava Vale de Freixo, tendo mudado
depois para Vale de Prazeres possivelmente por causa da paisagem e da beleza
natural que rodeia este lugar.
Aqui foram explorados em tempos duas minhas, de Volfrâmio e
de Estanho, que eram conhecidas como “Vale das Pinhas” e “Rapoula”.
As fontes e os chafarizes abundam por ali, num passeio a pé,
onde as casas nos contam tantas histórias passadas, descobrem-me fontes onde a
água fresca escorre suavemente das montanhas.
A melhor forma de conhecer Vale de Prazeres é passear a pé,
parando num café para descansar e conhecer melhor a população, partindo depois,
novamente, à descoberta dos recantos que fazem deste sítio um lugar especial.
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