A curiosa história do Museu da Piscina em Roubaix
A poucas estações de metro de Lille, mais propriamente na
estação de Jean Lebas, nos arredores da quarta maior cidade francesa existe um monumento
deslumbrante que choca pelo aparente desenquadramento histórico bem como pelo
local escolhido para ser construído.
Convido-vos a viajar comigo no tempo até 1932, ano em que o
arquiteto Albert Baert construiu a mais bela piscina de Franca, uma
preciosidade em Art Deco, destinada a servir de banhos públicos para os
trabalhadores que viviam unicamente do seu salario e basicamente com o que era
considerado essencial para o dia-a-dia nessa altura. Imaginem que num local
assim era construída uma obra de arte dedicada a esses trabalhadores, uns
banhos públicos onde se andava de fato de banho, todos de igual. Onde os homens,
as mulheres e as crianças frequentavam os banhos em dias alternados em defesa
da moral e dos bons costumes mas onde todos tinham acesso a todas as
facilidades, ao luxo do espaço, à água quente que rolava livremente pelas torneiras,
a momentos de verdadeiro convívio se bem que de uma forma pouco convencional,
especialmente para a época. Imaginem que os vitrais a lembrar o sol aqueciam o
espaço conferindo-lhe tonalidades quentes e tropicais, que a piscina era
coberta de milhares de pequenos mosaicos coloridos a fazer lembrar as obras da Grécia
antiga, que o espaço era amplo limpo e arejado. Quase que consegui ouvir as vozes
alegres dos trabalhadores estafados, as vozes baixas das suas mulheres a falar
dos fatos de banho alheios e os risos das crianças, aqui alegres e
despreocupados, todos livres da carga de trabalhos que devia ser viver nos anos
30 como empregado fabril.
E a piscina assim se manteve, do seu modo pouco
convencional, durante mais de 50 anos, a servir a população local. Em 1985,
devido ao seu estado de degradação, foi encerrada por motivos de segurança
tendo ganho em 2001 uma nova vida ao renascer como Museu de Arte e Industria
André Diligent ou o Museu da Piscina.
Graças ao projeto de reabilitação conduzido por Jean-Paul
Philippon, a antiga piscina municipal viria a converter-se num museu essencial
para a história da cultura francesa.
Tudo foi conservado tal e qual como era, desde o magnifico
painel de vitrais, essencial para a passagem da luz, ao fundo da piscina, feito
com milhares de pequenos azulejos, passando pelas instalações, locais para
mudar de roupa e até a caldeira de aquecimento das águas se mantem por lá, para
que não se esqueça o passado.
O acervo deste museu foi outra maravilhosa surpresa para mim.
Distribuído ao longo das antigas cabines de duche é possível admirar obras,
algumas pouco conhecidas, de grandes artistas como Picasso, Degas ou Camille
Claudel, a escultora pouco conhecida, amante de Roubin.
Uma das suas grandes obras está aqui exposta com o destaque
que merece “La Petite Châtelaine”, retrata a pequena filha de uma amiga, que
pousou durante largas horas em troca de guloseimas. No entanto, mergulhando
mais fundo na sua obra, poderemos pensar que retrata também a sua dor ao ser
obrigada a abortar de um filho de Robin, dor essa que nunca foi superada, tendo
a infeliz Camille Claudel sido conduzida pelo amor à paranoia e à loucura. O seu
fim é triste, acaba internada num manicómio, onde sobrevive durante cerca de 30
anos, sedada durante a maior parte do tempo.
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