Ferreira do Alentejo – Aquele Lugar Que Não existe

agosto 18, 2019

Ferreira do Alentejo – Aquele Lugar Que Não existe

De repente estávamos quase em Agosto, queríamos ir uns dia por Portugal fora e estava tudo cheio. De repente reparei que uma família de quatro adultos cresce facilmente por isso já eramos cinco sendo que o único pedido dos meus filhos era uma piscina e um ambiente calmo. O que parece um desafio simples foi realmente uma pequena loucura. Com o buzz que tem havido à volta de Portugal, onde encontrar em cima da hora um bom preço, paz, uma piscina, simpatia e boa comida no mês mais concorrido em termos de turismo em todo o ano?

Inspirada na Estrada Nacional 2 parti no mapa à procura de pontos de interesse e cheguei ao Alentejo profundo, mais propriamente a Ferreira do Alentejo. Fiz umas pesquisas na web, como todos nós antes de marcarmos férias e descobri Retratos da Memória, um alojamento local, que já foi uma casa de família. Localizado num local muito central, aqui não há nada que altere a paz que procurávamos. Uma piscina, não muito grande, de água salgada e um jacuzzi ao ar livre no terraço eram a promessa para uns dias felizes, fora da nossa realidade.

Esta, que se haveria de transformar numa viagem com uma forte componente gastronómica, foi uma descoberta de um Portugal à moda antiga, a correr lento e fluido como já não pensava ser possivel encontrar. Ferreira do Alentejo fica estrategicamente no meio de Portugal e não se descobrem por aqui muitos turistas, perfeito para quem quer um pouco de paz. Por outro lado e por causa da sua localização, é fácil seguir de Ferreira do Alentejo para outros pontos de interesse como Cuba, a Barragem de Odivelas, Beja e com um pouco mais de tempo, o litoral e as praias da costa alentejana.

O outro ponto favorável foi que não estando demasiado quente, o Alentejo é sempre o Alentejo e aqui o Verão sente-se de uma forma vibrante e continuada.

A agricultura, cria uma paisagem alentejana de campos a perder de vista, a flutuar entre os tons quentes dos castanhos e dourados e os verdes verdejantes. Aqui e ali, alguns animais disfrutam dos pastos enquanto repousam pacatamente.

A não perder a pacata vila de Peroguarda, onde as ruas estreitas e as casinhas pintadas de branco criam um charme característico da região.

A cerca de 3 quilómetros de Ferreira do Alentejo, entre campos de cereais e vastos olivais, descobre-se a vila romana de Monte de Chaminé, que remonta ao ano 1 A.C. e que nos relembra como foi importante a presença do romanos nesta região. Descoberta em 1981 por 2 arqueólogos portugueses é a maior localidade onde é possivel estudar a presença dos romanos na Península Ibérica.

Vale a pena descobrir os produtos regionais como o azeite, o vinho e a colorida mobília de madeira, pintada com tons quentes e motivos florais. Em Ferreira do Alentejo, a não perder a Capela do Calvário, dedicada a Santa Maria Madalena e que se destaca pelo seu formato fora do usual. Datada do seculo XIV, acredita-se que as suas pedras evocam o sofrimento de Cristo no calvário ou então as pedras que foram atiradas a Maria Madalena.

Outros pontos de interesse são as várias igrejas e capelas, o Museu Municipal e a Casa do Vinho e do Cante: a Taberna do Zé Lélito.

Na realidade Ferreira do Alentejo intitula-se como “UM Museu onde cabem 14 milhões de anos de história” e podemos caminhar ao longo deste tempo se formos ao Museu Municipal, num edifício datado de finais do Sec. XIX e onde se pode percorrer um caminho que vai desde a criação do Universo À História do Concelho em pleno Sec. XXI. O Museu inclui no seu espólio achados arqueológicos, pintura, arte sacra, informações sobre figuras relevantes da região e pode ser visitado de terça a sexta feira das 10h00 às 18h30 e ao fim de semana das 10h00 às 13h00.

Com marcação prévia é possivel ter uma visita guiada ao Monte da Chaminé e à Taberna do é Lélito. Esta última tem por objectivo recuperar as memórias das antigas tabernas com especial destaque para o vinho da talha, a poesia popular, o Cante. O espaço pode ser visitado de terça a sexta feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 18h30 e ao fim de semana das 10h00 às 13h00.

Mas uma visita ao Alentejo, mesmo que seja bastante breve, não está completa sem a gastronomia. No dia da chegada, mesmo junto ao Retratos da Memória, almoçamos nos Sabores da Memória. Destaque para as Sopas de Tomate, um caldo espesso onde se descobrem ovos escalfados, batata cortada aos cubos e enchidos. Estava delicioso!

Em Cuba, ao jantar, descobrimos a Adega da Lua, um excelente espaço para partilhar umas tapas ou uma refeição tipicamente portuguesa. As Migas estavam ótimas assim como o Bacalhau com Grão.

A não perder, em Beja, a Pipa. Pela mão da Chef Saudade Campeão a gastronomia tradicional portuguesa ganha uma nova vida, salta dos livros antigos e materializa-se para satisfação de quem tem a oportunidade de a degustar. Claro que na mesa não faltou o gaspacho, tão famoso que a Chef tinha estado no programa da Cristina Ferreira a prepará-lo especialmente para a Claudia Vieira. Eu deliciei-me com os jaquinzinhos fritos e como sobremesa, com uma encharcada saborosíssima.

A Pipa é tem tudo o que eu gosto num restaurante. Quando entramos não descobrimos nenhum tipo de luxo, parece-nos que estamos a entrar numa casa de pasto alentejana. É com o primeiro contato que percebemos que descobrimos um pequeno tesouro. A simpatia é genuína, à mesa serve-nos o dono e marido da Chef, que não deixa de dar a sua opinião enquanto cozinha. As entradas são simples mas muito boas. O pão alentejano, o chouriço assado, de porco preto e o queijo fresco de cabra contêm dentro de si o maior segredo de todos, o da pureza da sua origem.

O outro segredo é o amor que é dedicado aos clientes, ao longo de 21 anos de muito trabalho, o tempo dedicado à investigação dos pratos tradicionais e o respeito com que os mesmos são confecionados. Em Beja, sem duvida a não perder, uma visita à Pipa.

O Alentejo profundo, aquele lugar que não existe porque podemos achar que não vale a pena conhecer, guarda em si segredos da história, da simpatia genuína e do respeito pelas nossas tradições que vale mesmo a pena descobrir e levar a nossa família nessa viagem. Do Alentejo voltamos sempre mais ricos, não se esqueça disso antes de marcar a sua próxima viagem.

( Todas as fotos relacionadas com a gastronomia no Instagram em teresa_vai_de_ferias)