Desligada do mundo
Viajei até ao final do mundo e só demorei 8 horas a chegar.
Entrei num avião na Portela, desembarquei em Fortaleza e rumei ao Cumbuco. Quando
cheguei percebi que tinha chegado ao fim do mundo.
À pergunta: onde fica o fim do mundo? A resposta óbvia: onde
não existe rede de telemóvel nem de wi-fi.
Será que isso é mau? De facto não é nada mau, é bom porque
nos obriga a desligar (a maior parte das vezes já não o fazemos
voluntariamente) e percebemos que o mundo continua a funcionar, tudo à nossa volta
de mantêm igual e que afinal viajar e descansar pode ser mais do que um destino
paradisíaco, pode ser simplesmente desligar o botão que nos liga ao mundo.
Somos obrigados a abrandar, a relaxar e a deixar tudo rolar
naturalmente, e embora me sinta debilitada, como um viciado a precisar da próxima
dose, o que é um facto é que ser obrigada a só contactar com o mundo real nem é
mau de todo, afinal ainda há pouco tempo era assim que funcionava e eramos simplesmente
felizes.
Não vou contar histórias, assim que havia um tracinho de net
no telemóvel eu corria a ligar-me ao mundo, numa ansia….Para perceber que o meu
mundo continuava todo lá, no mesmo sitio, pouco se lixando para eu ter ou não
internet. (Outro fenómeno curioso é que todos os portugueses, ao fim de poucos dias
no Brasil começam a falar meio brasileiro. Pode ser porque é mais fácil ou porque
afinal todas as novelas que vimos ao longo da vida têm de ter um objetivo útil).
E de repente chegamos à dita civilização, a um local onde a
internet entra de novo para dentro de nós, sem pedir licença, enchendo a nossa
mente com milhares de estímulos diferentes. O telemóvel já dança de novo
alegremente, dentro da mochila ao ritmo da Shakira e eu sinto que voltei emergi,
de novo, para o mundo real. Fui empurrada para uma existência simples e de novo
sugada para a civilização.
Já posso abandonar o ser-pé-de-chinelo que também existe em
mim e voltar a ser Eu, o Eu que todos conhecem. Estou ligada ao mundo e faço
parte desse mundo porque a internet reconhece a minha existência. Como qualquer
viciado sinto que tive uma recaída e que voltei para a única realidade que
reconheço, seja ela boa ou má.
Voltei mas acho que gostava de ter a força de ficar por lá,
não tenho no entanto coragem para viver sem adrenalina, sem o vício de estar
ligada a todos, construindo pontes com histórias, ajudando, com o rasto que
deixo na internet a criar um novo mundo de partilha.
Voltei e tenho mais histórias para contar e novidades para
partilhar e embora o ritmo ainda não seja o habitual, venho com a mente repleta
de ideias, prontas a se materializarem e a deixarem a sua pegada na web.
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